sexta-feira, 17 de março de 2017

História trágico-marítima (CCIII)


O naufrágio do rebocador "Rio Vez"

Surge uma esperança quanto ao desmantelamento do “Rio Vez”
No dia 1 de Março próximo, realiza-se o concurso público, na junta Central dos Portos, em Lisboa, para a arrematação da empreitada de remoção do rebocador “Rio Vez”, naufragado há um ano na barra do porto de Viana do Castelo, e que ali tem permanecido com perigo para a navegação.
Como é evidente, o serem ou não removidos os restos do rebocador, depende de aparecerem concorrentes à empreitada e de lhes convirem as condições. Duvidoso, portanto. Respondendo a esta dúvida, mantém-se a realidade da presença do casco em tão perigosa situação, e demais a mais num local onde representa perigo constante para a navegação, como de resto foi reconhecido no despacho ministerial que ordenou a referida arrematação de empreitada.
Ficamos convencidos de que haverá concorrente à empreitada e que, desta vez, aquele «fantasma» será retirado da barra. Mas admitindo que não aparecem concorrentes, desde já antecipamos esta alternativa, em vez de serem deitados foguetes ante o anúncio da empreitada: e se não há concorrente?
Viana do Castelo só uma coisa deseja, e afirmámo-lo sem outra qualidade que não seja a de estar atento aos interesses desta terra: que o ministro das Comunicações ordene a remoção por conta do Estado ou da Junta Autónoma, evitando que se dilate por mais tempo um estado de coisas que não abona as nossas pretensões de país civilizado, onde o respeito pelas vidas humanas é tido na devida conta.
O “Rio Vez”, de uma maneira ou doutra não pode ficar na barra eternamente, à espera de empreiteiros.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 5 de Fevereiro de 1966)

Imagem do rebocador "Rio Vez", durante uma operação de salvamento

Características do rebocador “Rio Vez”
Armador: Junta Autónoma dos Portos do Norte
Nº Oficial: V-8-EST - Iic: N/t - Porto de registo: Viana do Castelo
Construtor: Desconhecido, 1943
Arqueação: Tab 102,84 tons - Tal 4,99 tons
Dimensões: Pp 21,25 mts - Boca 6,12 mts - Pontal 2,74 mts
Propulsão: Atlas Imperial 1943 - 1:Di - 400 Bhp - 300 Rpm
Equipagem: 8 tripulantes
O rebocador naufragou na barra do porto de Viana do Castelo, em 28 de Outubro de 1965, lamentando-se a morte de todos os tripulantes.

Vinhetas vianenses
Está na berlinda o porto de Viana. De facto, por toda a parte, em todos os jornais e, até, em discursos eleitorais, o doloroso caso deste porto é discutido, analisado, focado. É uma «berlinda» muito pouco honrosa e pouco optimista, porque tudo o que se diz é só para se constatarem coisas tristes, desgraças, desprestigio, empobrecimento dum porto que foi de intenso e febril movimento, que mostrava a azáfama, a vida, a riqueza e a prosperidade.
Em poucos anos, deu-se um volte-face; caíram as exportações, decresceu o valor do porto, ficaram mais patentes, dia a dia, as suas deficiências, os seus perigos, a sua falta de apetrechamento. Um dia até, um dia de negra desgraça, sucedeu que o rebocador de que o porto estava dotado, foi para o fundo e nunca mais foi substituído; até nesse pormenor, o porto ficou pior, não dispondo dum barco dessa categoria para um serviço de emergência; há dias, um iate de enorme valor, o “Barranquilla”, que sofreu uma avaria no mar, deu entrada no porto rebocado pela lancha dos Pilotos da barra, barco que, evidentemente não se destina a reboque.
Por felicidade, a habilidade dos pilotos conseguiu suprir a deficiência e o lindíssimo barco entrou são e salvo, e está a seguro na doca comercial. Mas rebocador é coisa que um porto tem que ter.
E não é somente rebocador; é toda uma série de faltas e deficiências que vão desde a balizagem luminosa do ante-porto, à falta de guindastes e gruas; desde a barra assoreada à falta de energia trifásica e iluminação das docas. E, no entanto, ainda há muito poucos anos esta doca de abrigo se podia admirar cheia de navios, e os cais cobertos de toros de pinheiro para exportação.
O porto está na berlinda; demos mais um empurrão a ver se o removem de lá – porque «berlindas» desta natureza não honram nem interessam…
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 1 de Março de 1966)

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